Sai a igreja, entra o estádio. No lugar de Nossa Senhora de Fátima, o escalado é "São Cristiano Ronaldo". E o santuário nesta quinta-feira atende pelo nome de Mané Garrincha. Mas será preciso bem mais do que gols e uma grande atuação do melhor jogador do mundo contra Gana - às 13h, em Brasília - para salvar Portugal da eliminação precoce na Copa do Mundo. Entre problemas e desconfiança, só mesmo um milagre leva a seleção lusitana para as oitavas de final do Mundial no Brasil. Segundo o site "Infobola", a chance é de apenas 4%.

- Ainda existe uma esperança e vamos tentar agarrá-la. Eu acredito em milagres - garantiu o zagueiro Pepe, que volta ao time após cumprir suspensão pela expulsão na estreia.

Pior campanha em Copas?

Uma missão de fé para o craque de um povo conhecido por sua religião - em sua maioria católicos. Após atuações discretas diante de Alemanha e Estados Unidos, CR7 assume o papel de Messias na luta contra o vexame: se não vencer, Portugal alcançará seu pior desempenho em seis participações no Mundial, superando até as eliminações na fase de grupos em 1986 e 2002. 

Cristiano Ronaldo adota modelo moicano na busca pela vaga para Portugal  (Foto: EFE)

Na Coreia do Sul e no Japão, aliás, a seleção também tinha o melhor jogador do mundo eleito no ano anterior (Luis Figo). Não foi suficiente para chegar às oitavas. Agora, o camisa 7 tenta evitar que a história se repita. Para transformar o milagre em realidade, Portugal precisa vencer e ainda esperar pelo resultado do confronto entre Alemanha e Estados Unidos para tentar tirar a diferença no saldo de gols. Empate nesta partida, no entanto, classifica alemães e americanos.

Os problemas são muitos. Pressionado pelos resultados recentes, o técnico Paulo Bento garantiu que não vai colocar seu cargo à disposição em caso de eliminação. São cinco os desfalques por lesão: Rui Patrício, André Almeida, Fábio Coentrão, Hugo Almeida e Postiga. Existe até a possibilidade de Cristiano ser escalado como homem de referência do ataque. Assim, Nani e Varela jogariam como atacantes pelos lados.

- Devemos lutar até o fim. É um jogo que precisamos ganhar. A situação é complicada. Precisamos ter um único pensamento: ganhar o jogo contra uma equipe tecnicamente evoluída, fisicamente muito forte, com um contra-ataque muito rápido - disse Bento. 

Gana paga jogadores e sonha com classificação

Com apenas um ponto ganho e menos um gol de saldo, Gana precisa também da vitória e torcer por triunfo da Alemanha sobre os EUA (que tem um gol de saldo). E na véspera da partida decisiva, se viu envolvida em uma crise. Cansados das promessas da Associação Ganesa de Futebol em relação ao pagamento da premiação pela classificação para a Copa do Mundo, os jogadores resolveram fazer greve e não treinaram na última terça-feira. 

Jogador de Gana cheira maço de dinheiro
(Foto: Almir de Queiroz / TV Globo)

O boicote deu resultado: o presidente do país africano, John Dramani, se comprometeu com os atletas de que resolveria o problema e cuidaria do pagamento de quase US$ 3 milhões (R$ 6,7 milhões), em dinheiro vivo, antes da partida. E cumpriu a promessa: o Jornal Nacional noticiou na noite dessa quarta-feira que uma comitiva desembarcou em avião fretado na Base Aérea de Brasília - local que vem sendo usado pelas seleções na capital federal - e seguiu com escolta policial direto para o hotel em que a seleção está hospedada, onde chegou por volta das 21h. Depois, os jogadores, felizes, receberam, cada um, US$ 100 mil (cerca de R$ 225 mil). E houve até quem cheirasse o dinheiro...

Antes disso, o técnico James Appiah já garantira que o grupo estaria focado para a partida. O meia Christian Atsu, de 22 anos, revelou que os jogadores haviam feito uma reunião e se unido para que não levassem para o campo os problemas que estavam enfrentando fora dele. 

Jogadores de Gana receberam a premiação às vésperas do jogo contra Portugal (Foto: Almir de Queiroz / TV Globo)

- Sabemos que essa partida é muito importante para o nosso povo. Para nós, jogadores, seria ruim uma derrota, já que as pessoas vão logo ligar e culpar a questão financeira. Não temos mais opções. Precisamos vencer de qualquer forma - dissera Atsu, antes da felicidade de ver o dinheiro em mãos.